sábado, 29 de julho de 2017

"Gostava de não usar a bomba atómica"

O Presidente já decidiu o que fará se sentir "o dever ético e o dever cívico de o fazer". Nunca porque "é normal"
ORLANDO ALMEIDA / GLOBAL IMAGENS
Marcelo Rebelo de Sousa já decidiu: se sentir que tem "um dever ético, um dever cívico, o dever estrito" de se candidatar, candidata-se. Mas, como já tinha dito na SIC, só daqui a três anos é que olhará "para a realidade" e fará a pergunta a si próprio. "Na verdade, só em circunstâncias muito anormais é que se poderia esperar que alguém que está na Presidência com gosto chega a 2021 não queira ficar até 2026", atira-lhe o DN a fechar a entrevista. "Não sei porquê, não sei porquê", responde o atual Presidente, que também já decidiu que não se recandidatará porque "as pessoas acham normal, porque se habituaram a essa realidade, porque todos os antecessores se recandidataram".

Há um ponto em que Marcelo tem a certeza de que gostaria de fazer ao contrário do que todos os anteriores presidentes, eleitos em democracia, fizeram. Porque dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas só se faz quando "é imprescindível usar a bomba atómica". "Portanto, se me pergunta se eu gostava de evitar a bomba atómica porque o país estava em condições tais que ela era evitável, gostava", diz o Chefe do Estado, que a seguir lança uma pergunta: "Quem é que não gosta de evitar a bomba atómica?" A verdade é que todos os outros a utilizaram, mas foi "em circunstâncias que tentaram evitar ou adiar o mais possível, mas foi impossível fazê-lo".

O Presidente Marcelo recorda o candidato Marcelo, que, na campanha, já tinha dito em que termos admitia utilizar o poder de dissolução. "O primeiro requisito é que haja uma crise institucional particularmente grave. O segundo é que não seja possível encontrar um governo no quadro da mesma composição parlamentar. E o terceiro é que seja plausível, com os dados disponíveis naquele momento, que o resultado da eleição conduza ao desbloqueamento da situação que gerou a dissolução."

Na longa entrevista que o Diário de Notícias publicará amanhã, Marcelo Rebelo de Sousa faz uma pequena síntese do que considera terem sido os seus antecessores, concluindo que "naturalmente, todos eles ao longo da sua carreira e, sobretudo, enquanto presidentes acabaram por revelar qualidades que permitem ao comum dos cidadãos, preferindo uns ou outros, realmente dizer que foram todos presidentes muito importantes". Mas isso significa que se revê nalguma característica de algum deles? "Cada pessoa é diferente de todas as demais, é a maior riqueza da natureza humana", explica Marcelo, que revela igualmente que, enquanto político, não tem uma figura histórica nacional ou internacional que o inspire. "Eu sou eu, fui sempre assim, seria estranho que os portugueses, no dia seguinte à minha posse, encontrassem uma pessoa diferente da que conheciam na véspera." Porque "a pessoa é como é, a pior coisa que se pode fazer neste ou noutro cargo é não ser o que se é. Acaba por não ser nem carne nem peixe", justifica-se o Presidente, que fica à espera do fim do mandato, altura em que "os portugueses, quando olharem para trás, dirão "olha teve coisas boas, teve coisas más, foi melhor ou pior do que pensava", veremos..."

A vida de Presidente da República, "por falta de tempo", não lhe permite ser "um fanático de nenhuma série", mas na televisão segue "bastante programas meramente informativos, de comentário político e programas de entretenimento". De vez em quando tem visto alguns episódios de várias séries, "algumas delas, aliás, políticas ou de teor político". Mas não é como Barack Obama, que não perdia um episódio de House of Cards.

Fonte: DN

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