segunda-feira, 7 de agosto de 2017

ALTA FINANÇA, INVESTIDORES, BANQUEIROS, POLÍTICOS E OUTROS VIGARISTAS


João Silvestre | Expresso
Bom dia,


“A natureza humana é dada ao esquecimento”. A frase é de Kenneth Rogoff e foi dita na entrevista que Expresso publicou sábado a propósito dos dez anos da chegada da crise do subprime à Europa. O quê? Estava esquecido? Não há problema. O Expresso está cá para o ajudar a recordar o que foi esta década numa série de trabalhos que irão ser publicados até final de Agosto. Rogoff, professor em Harvard nos EUA e um dos autores do best-seller “Desta Vez é Diferente – Oito Séculos de Loucura Financeira”, não tem dúvidas que há algumas lições que ficam mas que há comportamentos que invariavelmente se repetem. E a memória vai-se lentamente desfazendo

Efemérides há muitas – quase tantas como os chapéus do Vasco Santana. Mas há umas que deixam marcas maiores que outras. Foi em agosto de 2007 que o pânico financeiro chegou à Europa e o Banco Central Europeu foi obrigado a injectar milhares de milhões de euros no sistema. A notícia de então do Financial Times ajuda a avivar a memória.

É certo que o momento que mais facilmente ficará na memória é o estouro do Lehman, que só aconteceu mais de um ano depois. Mas os acontecimentos do verão de 2007 demonstraram algo que, na época, era recusado por muitos responsáveis europeus: o subprime não era um problema exclusivamente americano. O The Guardian recorda esses momentos, avisa que os problemas não estão todos resolvidos e cita o governador do Banco de Inglaterra, então no Canadá, a recordar como alguns dos sinais de então foram subvalorizados.

É fácil esquecer. Quando o trauma é grande até é preferível esquecer. Logo em Julho de 2008, ainda a crise não tinha atingido o seu auge, já o jornal satírico norte-americano The Onion ‘noticiava’ que uma série de líderes empresariais tinha estado no Congresso dos EUA a exigir que o governo disponibilizasse “uma nova bolha irresponsável e altamente ilusória onde se pudesse investir”. O Financial Times faz o balanço às multas pagas pelos bancos nestes dez anos e aponta para um valor na ordem dos 150 mil milhões de dólares nos EUA.

Agosto foi também o mês do estouro do BES. Foi no final do dia 3 de Agosto de 2014 que o governador do Banco de Portugal deu a notícia ao país. Morria o BES, nascia o Novo Banco. Uma operação ‘supostamente’ sem custos para os contribuintes que já teve um impacto de €4,9 mil milhões no défice de 2015 e cuja venda ao fundo Lone Star ainda está por concretizar.

A banca está preocupada, até porque as perdas do Fundo de Resolução serão cobertas por contribuições bancárias durante um período longo. Faria de Oliveira da Associação Portuguesa de Bancos fala numa fatura que pode chegar a 10 mil milhõese, mesmo assim, admite que podia não haver melhor alternativa. (Claro que Ricardo Salgado ainda acredita que havia uma alternativa, não fosse o governo de Passos Coelho ou o governador do Banco de Portugal. Só faltou dizer, na extensa entrevista que deu já em período silly season ao Dinheiro Vivo, que a culpa de ser Salgado é da cozinheira.)

Convém não esquecer também que pouco antes do verão de 2014 estava, aparentemente, tudo bem com os bancos. Havia problemas, claro, mas nada que indiciasse o que veio a a seguir. Não se recordam? A troika lembra-se. Em abril desse ano, na 11ª avaliação do programa, o FMI reconhecia que havia alguns desafios pela frente – no malparado e na recuperação da rentabilidade dos bancos – mas não falava em risco de colapso de qualquer banco. A Comissão Europeia alinhava por um discurso semelhante e até admitia algumas melhorias, como a redução da necessidade de recorrer à liquidez cedida pelo Banco Central Europeu.

O que também não se deve esquecer nunca são as atrocidades que cometidas na Síria. Pelos vários intervenientes: Daesh, Assad e outros que tais. As histórias são mais que muitas e bem conhecidas. Não há bons e maus, nem histórias a preto e branco. Mas há vítimas. Muitas vítimas. Todas diferentes, todas iguais. A reportagem do FT publicada na revista deste fim-de-semana ‘regressa’ a três cidades na Síria: Damasco, Homs e Alepo. Vale a pena ler. E reler. Para não esquecer.

Por fim, um salto de 70 anos no tempo até ao final da 2ª Guerra Mundial para assinalar dois momentos que, por mais que se tente, não é possível esquecer: as bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaqui. A 6 e 9 de Agosto de 1945. Passam 72 anos. O The New York Times, na sua rubrica 360º, recria o que aconteceu.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro 

O aeroporto da Madeira esteve condicionado por causa dos ventos e provocou o caos. O DN fala em 5500 passageiros afectados.

Os incêndios continuaram a marcar a actualidade. Foram vários: em Miranda do Corvo, em Salvaterra de Magos (numa loja), em Amarante e na Trafaria.

Este fim-de-semana trouxe o regresso do futebol a sério. Na Supertaça, logo no sábado, o Benfica venceu o Guimarães por 3-1 e entrou nas competições oficiais a ganhar. A Liga Nos arrancou ontem com dois jogos. O Sporting venceu o Desportivo das Aves por 0-2, com Gelson Martins a bisar, como conta o Diogo Pombo na Tribuna do Expresso. O Vitoria de Setúbal jogou com o Moreirense e empatou 1-1. Os jogos da primeira jornada seguem hoje e duram até quinta-feira.

Vieira da Silva, em entrevista ao DN e TSF, diz que “as contribuições para a Segurança Social subiram 7,85% em julho” e que isso é o resultado da criação de emprego. Na próxima semana, será publicada a primeira estimativa sobre o andamento do Produto Interno Bruto no segundo trimestre.

Nos últimos cinco anos, escreve o i, houve oito acidentes com aviões Cessna. Já o Observador diz que há três questões por responder no acidente da Caparica.

A propósito da transferência milionária de Neymar e do mercado de transferências, o Negócios destaca as 11 jóias da coroa da liga portuguesa de futebol.

Machetes dos jornais: “Nove guardas expulsos por tráfico nas cadeias” (Público); “Contra parecer do SEF governo aprova lei para legalizar mais imigrantes”(DN); “SIRESP colapsou desde 2010 em todas as urgências”(JN); “Bancos cobram 5,3 milhões por dia em comissões” (Correio da Manhã); “Ministério recusa divulgar nome das escolas que vão testar a reforma dos currículos”(i); “Clubes portugueses nunca ganharam tanto em transferências” (Jornal de Negócios); “Senhor Gelson”(Recorde); “Nas asas de Gelson”(A Bola); “Bas Gelson”(Jogo)

Lá fora

A crise na Venezuela continua a agravar-se depois das eleições para a assembleia constituinte. Ontem, segundo a informação oficial, houve uma tentativa de tomada de um quartel que foi repelida pelas tropas leais a Maduro. . Escreve o Público que Caracas insiste que travou um golpe que, segundo se sabe, fez duas vítimas. Mas há quem duvide da história, como conta o The Guardian. O presidente do parlamento ‘antigo’ exigiu a Maduro e ao seu governo uma explicação sobre tudo o que aconteceu. Isto numa altura em que o novo parlamento afastou a Procuradora-Geral e que o país foi excluído do Mercosul.

Novamente na ordem do dia está a Coreia do Norte. A ONU aplicou novas sanções na sequência dos testes com mísseis que podem cortar em cerca de um terço as receitas de exportações do país. E a China, tradicional aliado de Pyongyang, pediu à Coreia da Norte para acabar com os testes de mísseis.

Usain Bolt perdeu. Ou melhor, não ganhou. Ficou em terceiro na final dos 100 metros nos mundiais de atletismo que vão marcar a sua retirada de competição. O homem mais rápido do Mundo foi batido. Imagens inéditas em que o ‘Deus’ Bolt perde para Justin Gatlin que há (longos) anos tentava, sem sucesso, derrotar o jamaicano.

Os portugueses andaram animados com as faturas inflacionadas do Made in Correeiros. São contas pesadas, sem dúvida. Mas fatura muito maior será a fatura do Brexit. Já se falou em 100 mil milhões e agora, diz o Telegraph, o governo britânico poderá estar disposto a pagar 40 mil milhões de euros e já terá feito essa proposta.

No tempo das selfies e das fotos em tempo real, vale a pena dar uma olhada a este portefólio. São as férias de Vladimir Putinna Sibéria. Um verdadeiro Action Man. É ver o presidente russo em tronco nu, a pescar, a mergulhar, a nadar,…

Há uns anos falava-se no fim do atum por causa do sushi. Agora são os mexicanos que estão com problemas com o abacate, o ingrediente principal do seu famoso guacamole. O México é o maior produtor mundial e agora admite começar a importar para contrariar a subida dos preços internos.

Estamos a chegar ao fim do noticiário internacional e já me esquecia de falar de Trump. Tem havido alguns casos recentes – mais casos – e, soube-se pelo The New York Times, que alguns dos potenciais candidatos presidenciais republicanos em 2020 já estão no terreno. Mas, por hoje, fica a lembrança dos violentos protestos de Detroit em 1967 agora transpostos para filme por Kathryn Bigelow (veja aqui o trailer). É uma história verdadeira. O The Guardian conta-lhe como foi.

FRASES 

“Este é o momento em que de facto as reformas deviam estar a ser feitas, porque agora há espaço orçamental, porque agora há maior compreensão de Bruxelas, porque agora não temos aqui a troika a respirar-nos no pescoço a cada três meses e a dizer o que podemos fazer e o que não podemos fazer”, Maria Luis Albuquerque, Ex-ministra das Finanças e deputada do PSD

“Nisto não há protocolo. Numa situação de emergência daquelas [como o incêndio de Pedrogão] há tudo menos protocolo. O que há é a disponibilidade das pessoas para se moldarem àquilo que é a situação de emergência vivida.”, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República em entrevista ao Observador

O QUE ANDO A LER


“Teoria Geral do Esquecimento”, o título que foi ‘roubado’ para dar nome a este Curto, é o livro com que José Eduardo Agualusa venceu recentemente um dos maiores prémios literários do Mundo, o IMPAC de Dublin. A obra é de 2012 mas só em 2016 foi publicada em inglês. Eu também só agora cheguei às suas páginas.

É inspirado na história real da portuguesa Ludovica Fernandes Mano, Ludo para os amigos e família, que faleceu em 2010 em Luanda e que viveu escondida em casa durante 28 anos. Conta-nos Agualusa, como Luso se emparedou na própria para se proteger nos primeiros momentos após a independência de Angola e como assim permaneceu durante quase três décadas. A história de Ludo cruza-se com a história de Angola. Por aquilo que vai observando do terraço onde apanha pombos e cultiva algumas coisas para sobreviver. E cruza-se, claro, com outras personagens – riquíssimas e nada lineares – que vão compondo o puzzle até ao desfecho final.

“Teoria Geral do Esquecimento” consegue ser, ao mesmo tempo, um livro que tem como pano de fundo a história recente de Angola e uma viagem ao interior mais recôndito do ser humano. De uma história de enclausuramento físico e psicológico de alguém que preferiu ‘parar no tempo’ a enfrentar a realidade do seu passado traumático – na infância ainda em Portugal - e de um futuro incerto.

Podia ser uma alegoria mas não é. Apesar de toda a “pura ficção” – diz-nos Agualusa – que foi colocada em cima do diário de Ludo a que o escritor teve acesso. E pode servir para ajudar a interpretar os tempos que se vivem em Angola actualmente na contagem decrescente para as presidenciais de Setembro.

Ah, já me esquecia. Se quiser estar a par de tudo o que acontece no mundo mantenha-se atento ao Expresso Online e, às 18, confira os principais temas do dia no Expresso Diário. Tenha um excelente dia. Se estiver de férias, aproveite.

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